A megera interior e a autocrítica

Muitas pessoas tem uma “megera” dentro de si – que cobra cada vez mais resultados, critica e exige sempre mais. Quase sempre ela é pouco flexível, nunca reconhece seus acertos e enxerga a “metade do copo vazio”. Por mais que esteja cada dia melhor, para a sua megera, você tem sempre um defeitinho que, aos olhos dos outros é imperceptível, mas para você é uma deficiência grave. Não vejo problema em querermos sempre melhorar, o problema é quando isto se torna uma obsessão.
Nossa sociedade incentiva a competição: a mídia divulga um ideal de felicidade e perfeição que nós, meros mortais, tentamos a qualquer custo alcançar. O crescimento da comparação social provoca a sensação constante de inadequação, de nunca ser suficientemente bom; nos comparamos irrealisticamente com pessoas que nunca poderemos ser, e como resultado nossa megera interior fica cada vez mais ávida por resultados.
O que não percebemos é que quanto mais tentamos calar essa autocrítica, mais ela cresce. Muitas vezes nem percebemos que convivemos com ela, porque já naturalizamos esta eterna insatisfação. O perigo é que quanto mais ela cresce, menos reconhecemos nossos progressos e, consequentemente, não enxergamos nada de positivo nas nossas mudanças – o que não as reforça. Estamos sempre olhando para aquilo que falta e não para o que conquistamos.
Quando pensamos em emagrecimento a megera, ao meu ver, é a principal responsável pelo padrão de comportamento “tudo” ou “nada”. Como ela não admite nenhum erro, ela exige uma manutenção perfeita da dieta que, a longo prazo, é irreal, porque adaptações vão precisar acontecer. E quando estas adaptações acontecem, nossa megera interpreta como um erro grave e maldito e diz que tudo que foi feito até agora foi em vão já que aquele “erro” coloca tudo a perder e por isso podemos comer de tudo, já que houve um fracasso. Mas isso não é verdade! Esse padrão de exigência da megera é desumano. Para emagrecer é mais importante você aprender a raciocinar dentro da dieta proposta do que manter um preciosismo. Até porque toda esta crítica só traz mais ansiedade e mais vontade de comer.
O caminho é entender que a megera existe – cada uma tem a sua – em maior ou menor escala. A partir daí identifique quando ela aparece: em que ocasiões? O que estava fazendo, sentindo, pensando? Então comece um diálogo com ela: contra-argumente todas estas críticas. Reconheça o que já foi feito até então: os 3 kg que perdeu, mesmo que ainda faltem 10 kg. Perceba quais são os benefícios de estar sem estes 3 kg. Se não perceber as vantagens de emagrecer o processo será penoso, porque não terão pontos positivos – apenas as restrições alimentares!
E o mais importante é entender que não existe cumprir uma dieta 100% do tempo – as exceções vão existir, as festas, as viagens, as diferentes prioridades da vida. É fundamental querer melhorar a cada tropeço, mas se torturar pelo ocorrido não vai ajudar. Quando você apenas se odeia está criando um ambiente interno onde é muito difícil sentir outra coisa senão ansiedade e depressão.